Calvinismo, Cosmovisão e o Senhorio de Cristo
´´Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez``Jo 1.3
Uma das marcas do homem moderno é a divisão que ele faz da vida. Existe a vida privada, pública, pessoal, profissional, amorosa, familiar. Essa tendência um tanto quanto esquizofrênica é o normal no tempo hodierno. Também existe uma dicotomia na sociedade entre a vida pública e a vida privada. A religião, por exemplo, é reservada para o lado das crenças privadas e pessoais. No campo privado não se questiona a veracidade da sua religião, isto não importa é apenas pessoal diz o homem moderno. Simplesmente a pergunta sobre a verdade daquilo que você acredita não faz o menor sentido. Pois é apenas na vida pública que os homens tratam dos fatos e da realidade. Quando tentamos trazer os princípios cristãos para a discussão pública alguém se levantará e dirá: Deixe a religião para sua vida particular aqui é onde tratamos de fatos. Ou: Você não pode usar textos bíblicos contra o Aborto, pois isto é assunto de saúde pública e não de religião. Não posso responder pelas outras religiões, entretanto isto é tão nocivo ao Cristianismo quanto a heresia pelagiana. Quando aceitamos um cristianismo compartimentalizado já perdemos a guerra.
Não é estranho, portanto que encontremos pessoas que na sua vida pessoal se dizem cristãs e na sua vida profissional façam filmes pornográficos. Com a vida fragmentada nada disso é absurdo, tudo é possível.
Dentro da concepção calvinista não há espaço para o dualismo. Um dos mais influentes entre os pensadores calvinistas se chama Abraham Kuyper. Foi um brilhante teólogo, estadista, escritor, educador e um homem que apreciava as artes. Kuyper entendia que o Calvinismo é a expressão mais pura da fé Cristã, mas sua notável contribuição é a compreensão do Calvinismo como um sistema abrangente de vida(Cosmovisão). Como tal sistema ele responde a três questões básicas: 1) Nosso relacionamento com Deus; 2) Nosso relacionamento com o homem; 3) Nosso relacionamento com o Mundo. Todos os departamentos da existência humana com todos os relacionamentos envolvidos são vistos de modo integral e, portanto não podem ser separados. Todas as dimensões humanas são abarcadas pelo Calvinismo. Política, Economia, Igreja, Família, Música, Ciência, Sociedade e Arte. Nada foge do escopo do Calvinismo. Mas como o Calvinismo pode transpor a dicotomia natureza/graça, sagrado/religioso, público/privado. Qual a energia que o ergue para acima desta divisão?
A força libertadora da dicotomia é a verdade bíblica do Senhorio de Cristo. Significa que todas as coisas pertencem a Cristo e Ele está ´´ acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir não só no presente século, mas também no vindouro.``(Efésios 1.21) Ele é Senhor de tudo porque todas as coisas foram criadas através dele. O Verbo Divino. A palavra geradora de toda vida e existência, da matéria e do espírito, do barro e da razão. Portanto com entusiasmo repito a frase de Kuyper: ´´ Não há nem um centímetro em toda a área da existência humana da qual Cristo, o soberano de tudo, não proclame: Isso é meu ``. Não há espaços para separação. A vida diante de Cristo não pode ser fechada nos ditos arraiais religiosos, entretanto adentra por todo o vasto horizonte da natureza. O muro da dicotomia foi destruído pelo reinado de Cristo.
E agora como viveremos? ´´O homem regenerado deve viver Pro Rege, para o Rei, em toda atividade cultural, em todo relacionamento social e em toda organização comunal.`` (Henry Van Til). Devemos viver tendo em mente que todas as áreas de nossas vidas devem ser consagradas a Cristo. Temos que nos empenhar para que a nossa cultura seja submissa a Cristo. Nunca podemos ceder e aceitar a dicotomização que privatiza a nossa fé. Devemos estender os princípios do Cristianismo para aplicá-los na cultura, sociedade, política e ciência. Não aceitamos separação queremos tudo para Cristo.
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