A morte e eu


´´Não tenho tanto medo da morte quanto me envergonho dela`` Sir Thomas Browne

´´ Senhor, já cheira mal, porque já é de quatro dias.`` (Jo. 11.39)

Eis o fim da vida! Diante dela todos se calam. Homens e mulheres, velhos e jovens perante ela emudecem. O vigor do forte se esvai e a fraqueza do fraco fica apenas no passado ante a morte.

Quando olho para uma multidão penso que todos estão no mesmo barco, e um por um não importa como e quando teremos que enfrentar a morte. Eu mesmo, dia e noite tenho que lidar com esta realidade, e se por apenas um momento consigo esquecer vejo alguma notícia que automaticamente me lembra: tu morrerás. O homem com todo o seu conhecimento científico em pleno século 21 perto da morte é apenas uma criança diante de um gigante (sendo absurdamente otimista). Não há alternativas e nem com jeitinho brasileiro podemos escapar.

A morte é alvo de reflexão por muitas pessoas e existem várias perspectivas sobre a morte. Uma das mais conhecidas e aceitas é a estóica. A morte como um ´´sinal gentil da Natureza para descansarmos``(1). É uma maneira bem positiva de enxergá-la, entretanto se este é um gesto gentil fico imaginando o que seria um gesto cruel e grosseiro da natureza. Outra ideia bastante difundida é de que a morte é o pior dos males, parece conformar-se bem mais com meu próprio instinto de auto-preservação. Mas qual é a concepção cristã sobre a morte?

O Cristianismo trata a morte de uma maneira singular e profunda. A morte é a recompensa pelo pecado. É o pagamento justo da rebelião e desobediência contra Deus. Ela também é o triunfo de Satanás sobre a humanidade através do seu engano no Éden. É o nosso maior escárnio, o último inimigo. É a derrota e o total fracasso. É uma recompensa que nos trás a perda e a escuridão. E o tempo todo está a nos lembrar quem nós somos: ´´tu és pó e ao pó tornarás.`` (Gn 3.19)

Mas paradoxalmente ela é a única solução para a humanidade caída. É a derrota completa de Satanás e de todos os efeitos do seu engano. É a nossa maior vitória e completo triunfo. É o maior ganho. A maior das conquistas. O ato mais incrível da história humana. E o tempo todo está a lembrar os cristãos quem são eles: ´´batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte?``.



A morte de Cristo é o único caminho de vida. Ela ganha contornos únicos no cristianismo. É algo ambivalente? ´´Nossa suprema desgraça e nossa única esperança, aquilo que Cristo veio conquistar e o meio pelo qual Ele efetuou a conquista``.(2) Para que Jesus Cristo reinasse sobre a morte primeiro ele tinha que morrer. Foi o sacrifício pela nossa desobediência. Foi a derrota da própria morte, como John Owen brilhantemente intitulou um de seus livros: A morte da morte na morte de Cristo.

Portanto quando olho a morte perco todas as minhas esperanças, mas também me encho da esperança em Cristo. Ao mesmo tempo em que odeio a morte de todo o meu coração eu a amo de toda a minha alma. É diante dela que grito desesperado e faço meu mais profundo lamento, mas também diante da morte de Cristo que canto meu mais alto louvor e encontro o maior brado de vitória: ´´Tragada foi a morte pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?``. (1Co 15)


Nota:
(1) LEWIS, C.S. Milagres p.191
(2) LEWIS, C.S. Milagres p.192

Um comentário: