A Missão Integral e o Gnosticismo




A´´ missão integral`` chegou para ficar? Alguns de seus maiores entusiastas diriam que a igreja ainda está muito longe de realizar o ideal da ´´missão integral``. Mas tenho visto que poucos conceitos gozam de tanta aceitação dentre os diferentes ramos do movimento evangélico como este. Tendo os principais expoentes Rene Padilha, Samuel Escobar, Orlando Costas,Valdir Steuernagel, Robinson Cavalcanti, Caio Fábio, Ariovaldo Ramos, Ed Rene Kivitz, Carlos Queiroz. A Missão Integral fala do evangelho e da ação social como complementares na missão da igreja. A ideia da missão integral está presente no artigo do Dr. Alderi de Matos: ´´Entendemos que a evangelização e a ação social são partes essenciais e complementares da missão da igreja no mundo.``1 Para que a igreja atinja de modo pleno e integral o homem o evangelho não basta (perdoe-me por ser tão direto), ele precisa de complemento e auxílio da ação social. Este texto que escrevo bastará para ser rotulado como alguém que é avesso a qualquer prática de ação social da igreja.

Entendo que a ação social é algo muito nobre como prática das boas obras pela igreja, mas não posso aceitar o modo como é colocado pela ´´missão integral``. 

A minha oposição e resistência baseia-se tão unicamente no entendimento do que é o Evangelho. O evangelho da missão integral não é integral. Mas será que o evangelho não é em si mesmo integral? Será que ele não atinge o homem tanto espiritualmente como fisicamente? Afirmo que sim, o evangelho é integral. Pois ele atende as mais profundas necessidades espirituais e também as mais profundas necessidades físicas do ser humano. O verdadeiro evangelho de Cristo salva a alma do homem, mas também o corpo. Pela fé espiritual no evangelho o corpo será ressuscitado no último dia.(Jo 6.40,44). O evangelho é profundamente integral, ele salva o homem por inteiro e de modo integral. Portanto não aceito a missão integral porque rejeito a ação social, mas sim porque aceito o evangelho de Cristo.


Mesmo depois do grande milagre da multiplicação dos pães e dos peixes, Cristo deixa claro para a multidão, que o seguia pela satisfação das suas necessidades físicas (Jo.6:26), a singularidade do evangelho: Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna, a qual o Filho do Homem vos dará; porque Deus, o Pai, o confirmou com o seu selo.(Jo. 6.27) O Evangelho é único, por mais benéfica e correta que seja a ação social, ela não pode lhe fazer par como os teóricos da missão integral afirmam. A pregação do evangelho não precisa de complemento. Ela é única e sem comparação na missão da igreja. Nada pode completar o evangelho, ele já é completo. A missão essencial e singular da igreja é ser coluna e baluarte da verdade. (1 Tm 3.15).


Este conceito de evangelho segundo a ´´missão integral`` em suas raízes demonstra a influência do ´´velho e bom`` gnosticismo. O evangelho gnóstico é totalmente e apenas voltado para o lado ´´espiritual``. É a salvação docética. É a salvação apenas da alma e não do corpo. O evangelho é para o Espírito e a ação social é para o corpo? É certo que os gnósticos desprezaram a matéria como totalmente má, e isso os da missão integral não fazem. E alguns de meus leitores podem achar que estou exagerando. Mas juntamente com os gnósticos aqueles que defendem a missão integral não estão a desprezar o evangelho negligenciando o seu conteúdo integral? 

Por isso posso observar os pressupostos da missão integral e repetir não tão animadamente: ´´O que foi é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; nada há, pois, novo debaixo do sol.`` (Ec. 1.9)


Caros leitores deixo para o debate nos comentários. O que vocês acham da relação entre a ´´Teologia da Libertação`` católica e a ´´Missão Integral``? Seria esta última uma vertente evangélica da primeira?


1 SOUZA, Alderi. Estudos sobre ação social cristã. P. 2

Um comentário:

  1. Não sou adepto da "Missão Integral" (não por discordar da mesma, mas por entender que outras teologias mais completas já englobam essa abordagem), mas tenho uma opinião oposta ao do autor, visto que, gnosticismo seria, pra mim, o oposto da Missão integral. Um autor defensor da TMI (se não me engano, René Padilha) diz: "Corpo sem alma é defunto; alma sem corpo é fantasma" (embora eu discorde desse conceito de homem). Ou seja, pregam a não dissociação entre corpo e ampla, ao contrário da visão platônica e gnóstica.Portanto, defendem que devemos pregar "O Evangelho todo, para o homem todo". Sendo assim, não adianta chegar num faminto e ao invés de fazer o que Jesus ensinou (alimentar, dar água), vir com ensinos subjetivos. O alimento pra "alma" deve vir acompanhado do alimento pro corpo. O que concordo plenamente, pois a espiritualidade cristã não é teórica; é prática. E Jesus deixou claro isso em toda sua vida, principalmente em Mateus 25. Abraço e fique na paz.

    ResponderExcluir