''Não terás outros deuses diante de mim''
O primeiro mandamento que Deus deu na aliança que fez com o povo que tirou do Egito foi a proibição de qualquer forma de idolatria e a ordem de adorar, confiar, glorificar somente a Deus. Diante da promiscuidade do relacionamento aberto dos egípcios com tantos deuses, o povo de Deus deveria ter relacionamento exclusivo somente com Aquele que os libertou da escravidão sobretudo espiritual em que estavam no Egito.
Somente este Deus é merecedor porque somente Ele é Deus. Os deuses não são chamados assim porque existam e sim porque eram tratados assim pelas nações idólatras e em muitas ocasiões pelo próprio povo que se chamava pelo nome de Deus. Somente Ele é digno porque além de ser o criador também é o redentor do seu povo e isto é deixado límpido no prefácio dos dez mandamentos em Êxodo 20. Coloquem a confiança somente em mim, pois somente eu libertei vocês e somente eu os levarei para a terra prometida os guiando pelo deserto.
A idolatria não nascera com a fabricação do bezerro de ouro, mas sim no jardim quando nossos primeiros pais deram ouvidos a antiga serpente. No ato de desobediência havia o desejo de se tornar igual a Deus, esta é a essência da idolatria, nos tornarmos deuses. No fim das coisas, idolatria é a adoração a si mesmo, a egolatria.
João Calvino disse que o coração do homem é uma eterna fábrica de ídolos, não os fazemos apenas com nossas mãos, mas sobretudo com o coração! Parece não ter limite a nossa invenção de falsas divindades, qualquer coisa pode se tornar um ídolo para nós. Idolatria é adorar qualquer elemento da criação ao invés do Criador. Creio que um dos puritanos ingleses disse que idolatria é qualquer coisa que diminua meu amor por Cristo, e está é uma maneira muito perspicaz de entendê-la. Os ídolos modernos não têm o mesmo nome dos ídolos do Egito, mas certamente o materialismo, o hedonismo e a busca pelo poder também eram adorados no mundo antigo. Podemos fazer de tantas coisas nossos ídolos, fazendo delas a prioridade de nossas vidas. Um ídolo é tudo aquilo em que colocamos nossa confiança, satisfação, esperança e felicidades últimas. Podemos confessar a Deus como o Senhor e ainda assim fazermos de algum elemento da criação o nosso deus funcional.
Um dos deuses mais perigosos e não tão óbvios é a nossa autojustiça, a confiança na mentira que somos muito bons. O ídolo do fariseu que orou e não desceu justificado pode estar muito presente em nossas vidas sem nos apercebermos. Quão facilmente nos deliciamos a pensar sobre o quão bom, nobres e melhores nós somos. Isto embriaga-nos mais do que o vinho!
Meu caro leitor, ao meditarmos um pouco neste primeiro mandamento só podemos concluir que temos quebrado-o tantas vezes e que é tão impossível de o guardá-lo perfeitamente, como é exigido pelo Deus perfeito. Quem não é condenado por isso? Nós conhecemos somente um!
Mas diante da condenação e justa maldição nasce uma esperança tão antiga como a promessa da semente da mulher!
Nossa única esperança diante da exigência da lei divina é que o próprio legislador seja também o nosso redentor. Esse povo que recebera as duas tábuas de pedra deveria continuar a olhar somente para Deus. Ele já os havia libertador, mas a nossa dependência dele não diminuíra por nenhum segundo sequer!
Não terás outros deuses diante de mim! Oh Senhor! Salva-nos de nós mesmos! Só podemos concluir juntamente com Paulo de Tarso: ''Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?'' E nesta conclusão dar graças a Deus por providenciar alguém que cumpriu a lei perfeitamente e justamente por isso pôde assumir o nosso lugar!
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